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PONTE MARIA PIA
27/12/2023
No centenário da morte de Eiffel, o GARRA Porto denuncia 32 anos de abandono da Ponte Maria Pia pendurando faixa na ponte
Passam hoje, 27 de dezembro de 2023, 100 anos sobre a morte de Gustave Eiffel, autor da Ponte Maria Pia. E o Porto e Gaia, que há 146 anos têm uma das obras que foram a base do desenho para a construção da famosa torre Eiffel, em Paris, têm a Ponte abandonada desde 1991.
Foi por isso que o GARRA Porto pendurou hoje na Ponte uma faixa dizendo "100 anos de Eiffel, 32 de abandono: até quando?". (imagens em anexo)
A Ponte Maria Pia é monumento nacional desde 1982, única na Península Ibérica e muito valiosa à escala mundial. Foi recordista mundial de ponte com maior vão quando foi construída, em 1877, e, sendo uma obra do célebre Eng. Gustave Eiffel, tem potencial para ser um importante pólo de atração turistico-cultural na região; a sua localização tem a vantagem de contribuir para diversificar as zonas de atração em Gaia e Porto. Nas sessões de debate que organizámos sobre o Ramal da Alfândega, oradores como Álvaro Domingues e Manuel Matos Fernandes destacaram a urgência de dar uso à Ponte D. Maria.
Há mais de 6 anos que a Ponte faz parte duma candidatura internacional a património da UNESCO mas sem quaisquer resultados à vista, nem sequer ao nível nacional. Os executivos de Gaia e Porto, que estão há 10 anos no poder, ainda têm dois anos nos seus mandatos para tornar a Ponte D. Maria um valioso activo do Grande Porto e do País.
Já se fala da sua recuperação desde 2002 (ver aqui), em múltiplas datas e ocasiões mas nada está feito até agora. Apesar de algumas reparações há 10 anos, a ponte permanece abandonada. Até quando?
Historial
Desde pelo menos 2017, a Ponte Maria Pia integra um projeto de candidatura conjunta a património da UNESCO, tal como a D. Luís e mais quatro grandes pontes em arco do final do século XIX, uma em Itália, duas em França e uma na Alemanha. Nessa altura, o município do Porto assinou em Solingen, na Alemanha, um memorando comprometendo-se a preservar as pontes (neste link encontram as actas do encontro, e o memorando está na página 12); já em 2022, o Arq. Daniel Couto representou o município de Gaia num evento com a mesma finalidade, perto da Ponte de San Michele, em Bergamo, Itália.
Para essa classificação, existe um passo prévio obrigatório: que alguma entidade portuguesa mostre a intenção de inscrever a Ponte Maria Pia (e a D. Luís) na Lista Indicativa de Portugal.
Porém, e não obstante o memorando e a participação em eventos internacionais, segundo a Comissão Nacional da UNESCO (CNU) a inscrição da Ponte Maria Pia não foi apresentada durante a revisão da Lista Indicativa de Portugal a património da UNESCO, entre Setembro de 2022 e 15/01/2023.
Segundo a CNU, a nova revisão dessa lista será em 2029 ou 2030, e para a inscrição é necessário haver um calendário para a reabilitação com financiamento assegurado; a candidatura a património da UNESCO requererá ainda que a Ponte D. Maria esteja a ser usada de alguma forma, para mostrar a sua integridade funcional e integração no contexto urbano, assim como a aplicação de estratégias de conservação futuras.
E o que falta para tal acontecer?
Estando em bom estado estrutural depois duma reparação há cerca de 10 anos, a obra incidirá apenas sobre o tabuleiro e corrimão, e sobre os acessos em cada margem,
Do lado de Gaia, a Ponte encontra a margem num local plano, atualmente com vegetação, e que poderá permitir alargar o Parque da Ponte Maria Pia; a Ponte faz parte de rede ciclável prevista no Plano de Urbanização da Avenida da República (PUAR), e a consolidação da escarpa adjacente, condição necessária para a reabertura, está feita.
Do lado do Porto, existe desde 2016 o projeto para criar acessos à ponte com elevadores ou escadas rolantes para vencerem os desníveis entre a Marginal, o tabuleiro e o Largo do Padre Baltasar Guedes; tal como Gaia, o município do Porto gostaria de integrar a ponte na rede de mobilidade suave da cidade, e tem a consolidação da escarpa tratada desde o Verão de 2023.
Do lado da IP Património (IP-P), que é quem gere a ponte, a indicação que existe é que os municípios podem decidir o que querem fazer com os ativos da IP-P, desde que isso não tenha custos para a empresa.
Quanto a operadores privados, vêm periodicamente a público notícias da intenção de uma concessão da ponte que assegure a sua reabilitação e uso turísitico, mas ainda sem concretização.
Segundo as estimativas de 2016, estaríamos a falar de cerca de 5 milhões de euros de obra no Porto e na Ponte; do lado de Gaia talvez mais 1 a 2 milhões. As estimativas dum operador privado, em 2023, andam pelos 3 a 4 milhões.
Em qualquer caso, não estamos a falar de algo incomportável, considerando o incomum valor patrimonial da Ponte e a repartição pelos dois municípios ou até por um projeto empresarial.
Por fim, a chegada do TGV ao Porto obrigará à construção duma nova ponte rodo-ferroviária naquela zona; seria indesculpável não aproveitarmos a atenção que vai incidir sobre este território para finalmente reabilitarmos e reabrirmos a Ponte Maria Pia.
Com financiamento público ou privado, com acesso livre ou pago (idealmente com vantagem para residentes), com ou sem museu do Eiffel... o importante é que algo se faça antes que a Ponte caia, como refere a Liga de Amigos da Ponte
Até hoje, não há nenhum sinal concreto de que tal venha a acontecer em breve, apesar das notícias animadoras que vão saindo periodicamente sobre a reabilitação da Ponte Maria Pia, como esta (de Dezembro/2016, referindo também um projeto de 2004), esta (em Agosto/2022) ou esta (Novembro/2023).
Os executivos de Gaia e Porto, que estão há 10 anos no poder, ainda têm dois anos para deixarem uma marca para o futuro da região. Aproveitem-na, e façam da Ponte D. Maria um valioso activo do Grande Porto e do País.